quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Viagem Brasília-Buenos Aires - 8º dia (04/04/2019)

Oitavo dia - Cruzando fronteiras! (04/04/2019)


Sai de Pelotas por volta de 10 horas da manhã.


Fui informado que poderia ter problemas com abastecimento, pois só havia, de acordo com informações, dois postos entre Rio Grande e Chuí. De fato, o primeiro posto é logo após pegar a BR-471, e o seguinte é só perto da entrada da reserva do Taim, a 100km dali. 

Pouco antes da entrada do Taim, parei no posto apenas para comprar uma água, pois meu tanque ainda estava quase cheio.


Parada no posto antes da entrada da reserva do Taim só pra tomar água e usar o banheiro - o tanque estava quase cheio

Só que foram abertos vários postos novos pelo caminho, alguns deles (não conferi) com "paradores" (é o nome que os sulistas dão aos grandes restaurantes de beira de estrada) aparentemente decentes, eu contei um total de SEIS postos nos aproximadamente 280km entre Rio Grande e Chuí (abasteci no quinto deles, quando havia acabado de acender a luz da reserva - eu tinha combustível suficiente para ir até a fronteira e mais um bocadinho se quisesse), sendo que em TODOS os postos que você passa a sinalização indica a distância até o próximo. 

A maior distância entre postos é de 100km (de Rio Grande até o acesso ao Taim). Então, desde que você saia de Pelotas com o tanque cheio (e se tua moto tiver pouca autonomia, abasteça antes da entrada do Taim), não terá problemas. Dá pra fazer até com uma Sportster 48 desde que segure a mão pra conservar combustível (a minha tem autonomia de 300km em média, até 350 andando devagar, então... tranquilo).


Passei pela (maravilhosa) Reserva do Taim.  Sim, o trecho do Taim é lento. Não há radares mas é importantíssimo seguir rigorosamente as leis de trânsito no local, pois há muita travessia de animais silvestres (não vi nenhum atravessando mas vi várias capivarinhas mortas na beira da estrada :-(  ). Esse trecho é lindo , com o visual dos riachinhos beirando a estrada, as revoadas de aves (tuiuiús?) que surgem desde o acesso à BR-471. A baixa velocidade também ajuda a conservar o combustível. Foi o dia mais "econômico" da viagem. Nos demais trechos o computador de bordo marcava uma média de 5,8L/100km, hoje o consumo baixou para 5,1L/100km (quase 20 km/l). Ainda abasteci em um posto um pouco depois da reserva do Taim.

Parei pra abastecer apenas DEPOIS da Reserva do Taim, quase em Chuí

Por volta de 14:00 estava cruzando a fronteira!!!! Parada para fotos (é claro) e segui até a aduana.


A fronteira "física", na avenida principal de Chuí/Chuy

Olha a cara de felicidade do guri!


Segue o vídeo dessa primeira parte do dia (não se esqueça, é 360 graus, então melhor ver em tela cheia):


Os trâmites na aduana foram rápidos e eficientes. Sério, levei menos de 5 MINUTOS para a travessia. Dica: mesmo não sendo obrigatório para viagens ao Mercosul, se você tiver, leve seu passaporte. Primeiro, porque facilita muito o trâmite de "migración", segundo porque você ficará para sempre com o passaporte carimbado como lembrança da sua viagem.


Não tem preço!

Parei um pouco depois para almoçar no primeiro "parador" que vi, já na Ruta 9, onde na verdade o restaurante era um café bem simpático, com comida maravilhosa (provei o choripán e as empanadas), mais uma Pepsi-Cola de 600ml por apenas 270 pesos uruguaios (já incluso serviço). Isso dá aproximadamente 30 reais. Parece muito mas considerando que comida em estrada geralmente é cara...


As estradas uruguaias são verdadeiros tapetes, muito bem sinalizadas, mais até do que estamos acostumados no Brasil. São também muito bem policiadas (por isso, segure a mão, o limite na 9 é de 90 km/h - mantenha-se a 90). Uma curiosidade: pouco depois da aduana, em plena Ruta 9, há uma pista de pouso. Sim, transformaram um trecho da estrada em pista de pouso para emergências. Por motivos óbvios, é proibido (sob qualquer hipótese) parar no local. Ouvi dizer que pelo fato de ser uma pista de pouso, é também um trecho sem limite de velocidade. Mas não arrisquei. 

Aí veio a grande decepção do dia.

TODOS (repito, TODOS) os motoviajantes (não importa o estilo da moto) que vem para cá falam que é pra sair da 9, pegar a 16 perto de Castillos, acessar a Ruta 10 e passar na frente do parque nacional de Cabo Polonio.

Veja bem, Cabo Polonio (o parque nacional) pode até ser uma atração imperdível, mas depois de um dia inteiro de calor (sim, foi outro dia abafado) pilotando eu nunca iria querer desviar da minha rota para caminhar no mato, por mais bonito que fosse. Eu realmente imaginava que desse pra ver alguma coisa já da pista, mas não, o parque é gigantesco, você mal vê o pórtico a partir da Ruta 10. Nem a pau iria fazer esse passeio, já que tudo o que eu queria era chegar a Punta ainda de dia.

Então voltemos: todos os motoviajantes falam: "ruta 9, ruta 16, ruta 10, Cabo Polonio, bla bla bla". Sério mesmo gente? As Rutas 16/10 não tem estrutura (não tem posto, não tem acostamento), é um retão enorme com uma paisagem suuuuuuuuuper sem graça (ao passar na frente de Cabo Polonio a única visão é o pórtico do parque bem ao longe) e, pra completar, logo depois de rodar (sei lá) uns 60km ali, você tem que pegar 15km de estrada de chão para... voltar à Ruta 9!!!!!!!

(nota: quando estava editando os vídeos dei um confere no Google Maps, se eu tivesse seguido mais uns 10-20km à frente teria evitado o barro kkkk - só fui descobrir isso TRÊS MESES DEPOIS DE VOLTAR PRA CASA... kkkkkkkk)

Vídeo da Ruta 9 (sensacional, com a passagem pela pista de pouso de emergência) mais a monotonia das Rutas 16 e 10 (não se esqueça, o vídeo é 360 graus, então é melhor visto em tela cheia):



AAAAHH não. Esses 15 km foram a parte mais cansativa e tensa desde que saí de Brasília. Estava com um medo tremendo de tombar a moto (falaremos disso mais à frente), furar/cortar um pneu e mais: da chuva que estava vindo, o céu estava ficando preto e o calorão havia ido embora. A temperatura baixou algo em torno de 13 graus em pouco mais de 15 minutos (o que não é de todo ruim dado que só passei calor nos últimos dias, eu só não queria ser pego na chuva em uma estrada de chão batido que viraria uma lama batida bem escorregadia).

Sério, desviar pra Cabo Polonio pra não ver nada e pegar 15km de chão de volta até a Ruta 9?


Se chovesse quando eu ainda estava nesse barro batido ia virar um sabão, e tombo(s) seriam inevitáveis

Ruta 16/10? Tô fora. Conselho de amigo? A menos que você faça realmente TOTAL questão de visitar o tal parque de Cabo Polonio (ainda assim te convido a repensar, principalmente se você estiver de cruiser/custom/touring ou naked - o pessoal de big trail ainda é capaz de se divertir) , NÃO vá pela 16/10. Siga reto pela 9, que é uma baita autoestrada (ainda que de pista simples) que vai te economizar tempo e chateação. Esquece a 16/10. Não vale o desvio. Quer mesmo visitar Cabo Polonio? Monte sua base em Punta e contrate um receptivo que te leve de van ou ônibus. Ir de moto é um baita "programa de índio". Não vale o trabalho.

Ruta 16, 10, Cabo Polonio? "vão se foderem!!"

Ainda sobre a sinalização das estradas uruguaias, vale citar que até mesmo essa estrada vicinal sem asfalto era super bem sinalizada, placas e marcos quilométricos não faltavam, só faltava mesmo asfalto.

Depois desse "atraso", peguei novamente a 9 (antes de começar a chover!!!) e quando estava chegando a Rocha começou a pingar. Parei no posto logo na entrada da cidade e vesti minha capa de chuva (detalhe, a calça já está em frangalhos, acho que metade dela já está no escapamento da moto... risos). Segui sob chuva desde Rocha até o acesso a Punta via Mananciales (e foi praticamente o único trecho de chuva forte que peguei em TODA a viagem, fora a saída de Brasília - no resto do tempo, a capa ficou apenas ocupando espaço na minha bagagem). Nesse momento também a temperatura começou a cair... cheguei a pegar 40 graus perto de Chuí(RS), saí da estrada de terra com 30 graus e em poucos minutos o termômetro da moto já marcava 17. 

Aliás, outro fato interessante que notei rodando pelas estradas uruguaias: escolas rurais. São inúmeras, você perde a conta, vê uma a cada 10km em média. E mais, as escolas são super bem conservadas, com brinquedos para as crianças curtirem o recreio, etc. Tudo muito ajeitadinho, nada a ver com as escolas públicas em frangalhos aqui do nosso lado da fronteira. Os uruguaios preferem montar (e manter!) escolas pequenas para atender (que seja) apenas 10 a 15 crianças num raio de 10 km a fazer (como no Brasil) com que as crianças terem que viajar por horas e horas em condições sub-humanas para sentar numa sala de aula em condições precárias. País que investe seriamente em educação é assim. 

Voltando à estrada... confesso que dado o episódio da 16/10, fiquei com um baita receio de pegar essa rota secundária (acesso a Punta por Mananciales) em vez de ir pela rota direta (via San Carlos, que me economizaria uns 8 quilômetros). Mas, nesse caso, vale. Essa estradinha por Mananciales (apesar de não ter um asfalto de tão boa qualidade - mas ainda assim melhor que a média do Centro-Oeste brasileiro) é bem bonitinha e termina de frente para o oceano. Ali, você vira à direita e está praticamente em Punta del Este (já na rambla que corta as várias intendencias - os municípios - da região, desde José Ignacio - que fica à esquerda - até Punta)!

Punta del Este é um balneário, com visual bem opulento (prédios enormes, casas de luxo) e possui inclusive cassinos (nota: os cassinos uruguaios são todos estatais - não sei como são, não visitei nenhum deles). E... está totalmente deserta na baixa temporada (talvez para o fim de semana tenha algum movimento, não sei).

Já dentro da intendencia de La Barra (pouco antes da entrada de Punta propriamente dita), resolvi dar uma paradinha para conferir o GPS. Levantei da moto, virei as costas para esticar um pouco e só ouvi o "cataploft". Sim, amigos. A moto tombou parada. Caiu para a direita. Por sorte um passante me ajudou a tirá-la do chão. Não sei onde estava com a cabeça que , ao parar, nem conferi direito o pezinho e o angulo do guidão. Como não houve quaisquer danos (salvo um arranhão no protetor de alforges - que realmente fez seu papel ali - e na minha reputação, não houve estragos).

Segue o vídeo da terceira parte do dia... com o trecho de off-road entre a 10 e a 9, a chuva em Rocha e a chegada a Punta. Novamente, lembre-se: os vídeos são 360, então são melhores pra ver em tela cheia.




Tentei fazer a foto tradicional em frente aos "Dedos" mas não consegui achar um bom ponto de visada. Não é mais permitido parar na frente, há placas de proibido parar E estacionar em todos os pontos da via em frente à escultura, e existe fiscalização. Ninguém para ali MESMO. Tem um estacionamento do outro lado da rua mas não consegui achar a entrada...risos. Amanhã antes de pegar a estrada eu descubro.


Olha "Los Dedos" lá no fundo, procura que você acha


Chegou a hora de pagar uma bebida de qualidade para aquela que foi minha fiel companheira de viagem desde que saí de Brasília: a moto ganhou um tanque cheio (até porque aquele trecho de offroad foi todo em segunda marcha, comeu gasolina) da mais pura nafta 95 octanos, sem o álcool anidro utilizado na gasolina vendida no Brasil (mas infelizmente ela está acostumada a beber gasolina ruim e não se deu muito bem com a nafta pura - falaremos disso mais à frente).


Pelo jeito ela está acostumada a beber "rabo-de-galo". Não se deu bem com a "nafta" sem álcool

Fiz o check-in no hotel El Remanso e tomei um (merecido) banho de banheira. Depois jantei (no Los Caracoles, bem perto do hotel) e me presenteei com uma garrafa de um excelente Tannat uruguaio (Garzón Reserva 2017), e fui dormir.


A distância percorrida no dia, conforme os logs do GPS, foi de 509km.







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