Tem novidade na garagem.
A Indian e a indiana.
Peguei (na troca por aquela BMW GS Adventure que eu havia pego na troca da Heritage 2018) uma Royal Enfield Classic 500 Chrome, na cor cromo-verde.
A moto é ano 2017 e tem aproximadamente 19.500km rodados. O ex-proprietário veio pilotando ela do interior de São Paulo para operacionalizarmos a troca das motos aqui em Brasília.
Eu nunca havia andado em uma Royal Enfield na vida, então tinha um certo preconceito com a moto por conta de relatos na Internet, que falavam o quanto ela vibra, o quanto não anda, o quanto "antiquada" ela é (fora a fama de problemática, em que pese eu conhecer pessoalmente VÁRIOS donos que só elogiam a moto - o Flávio Bressan, do projeto Estradas Amazônicas, tem três Royal, uma de cada modelo). Mas foi a oportunidade de negócio, eu não aguentava mais olhar para a BMW na garagem sem usá-la (a moto é tecnicamente maravilhosa, mas realmente não curti o estilo big trail, não é minha praia) então peguei a Royal com uma boa volta.
E que grata surpresa essa moto foi!
Primeiro, devo ressaltar: ela não está 100% original. O ex-proprietário fez alguns upgrades na moto, a saber:
- filtro de ar K&N;
- ponteira esportiva (ainda não está instalada na moto, veio com a original já que a esportiva era menor e mais fácil de despachar pelo correio - só devo instalar depois da vistoria de transferência);
- gerenciador de injeção Redline;
- pneus de uso misto, sendo o traseiro 120 (os originais são para 100% asfalto e o traseiro é 110mm);
- relação alongada, com pinhão de 19 dentes (original é 18);
- guidão da Bullet (um pouco mais alto que o da Classic);
- Manoplas "réplica da EMGO" com grip de raquete de tênis (absorve BEM as vibrações).
Então esses upgrades ajudaram a minimizar algumas das limitações da motocicleta... notadamente a vibração em velocidades de cruzeiro em torno dos 100-110 que dizem ser absurda, mas que a meu ver é bem suportável (bem menos intensa do que era numa XT600E que tive há alguns anos). Como esta moto "original" a 110 está bem perto do seu limite, com a relação alongada deu-se mais uma margem de trabalho, então a faixa de giros (indeterminada já que a moto não tem conta-giros kkkk) da moto nessa velocidade não deixa a vibração insuportável não.
Performance:
Não é uma moto rápida nem dá sustos. É muito dócil, fácil de pilotar demais. Na configuração atual a primeira marcha (beeeeeeeeem longa) corta entre 50 e 55km/h (de velocímetro, o qual pode até ser bem otimista nas medições). Acredito que uma original de fábrica (sem o pinhão alongado) corte nos 45 km/h (no velocímetro). Pro uso no anda e pára do trânsito bastam primeira e segunda marchas. Isso torna a motoca extremamente fácil de pilotar até mesmo por principiantes. Senti que o ajuste do módulo Redline com a ponteira original (está ajustada para a ponteira esportiva) deixou a moto meio “amarrada” talvez ela se solte bem quando trocar o escapamento. Também não dá tranco nas reduções... parece contraditório, mas ainda que vibrante ela é bem suave de pilotar.
É suficiente para o uso urbano.
Conforto:
Com a “manoplinha absorvente” e a relação longa, dá pra andar a 100-110 (não quis testar além disso) e em que pese vibrar bastante, não chega a incomodar como incomodava, por exemplo, na XT600E (XTE) que tive há 10 anos. Ainda tem, nessa velocidade, uma folga (pequena é verdade) pra uma ultrapassagem. Vale lembrar que a XTE tinha muito mais final, e mesmo com folga de sobra de motor a vibração nessa velocidade era insuportável em quinta marcha. Acredito que chegue aos 130 no plano (na configuração atual com relação alongada). Vibra, sim, como é de se esperar de um monocilíndrico de grande capacidade e curso longo, mas não parece que vão cair as obturações dos dentes como era na XTE. Vibração nos pés não incomoda, a pedaleira é BEM emborrachada. As botas devem ter ajudado também.
O banco além das molas tem uma boa camada de espuma, e é bem confortável. A posição das pedaleiras é neutra: nem tão avançada quanto uma custom, nem tão recuada como uma naked ou esportiva, ou mesmo uma big trail (apesar do banco mais alto da GSA, nela meu joelho ficava mais dobrado e isso cansava rápido) . O guidão poderia ser (pra mim) uns 3cm mais elevado (lembrando que é o da Bullet que já é mais alto que o da Classic) mas como ele não é tão afastado do banco como (por exemplo) na GSA é possível forçar uma postura ereta sem que os braços ou lombar me incomodem (lembrando que cada piloto tem seu biotipo - para referência tenho 1,81m, 85kg).
A suspensão é ideal para o porte da moto , peguei umas ruas com piso bem ondulado e não me incomodou.
Maneabilidade:
Pra quem está acostumado a andar (no trânsito) com uma Touring de 430kg, a Royal, com seus 194kg, é uma Mobilete. Mas como tenho outras referências de moto (Sportster, Dyna, Tiger 1050, GSA 1200, Bandit, Burgman 400, Intruder 250 etc) dá pra fazer uma avaliação mais ponderada. Eu diria que no trânsito tem a agilidade e maneabilidade da XTZ 125 (descontada a suspensão de trail), performance da Intruder 250 (um pouco melhor que a 250), final de Falcon (chega a 130 com certeza, talvez 140 na descida). A posição de pilotagem com o banco sela, apesar do tanque entre as pernas, lembra de algumas scooters (costas eretas, pernas em posição neutra e guidão baixo e próximo do piloto)... assim como o comportamento ao mudar de faixa, por exemplo (por conta do entre eixos curto).
Digno de nota é o excelente funcionamento dos freios (duplo disco com ABS).
Dá pra fazer um paralelo com a antiga "CG Bolinha" e dizer que é um “CG Bolão”.
Visual:
Nem com a Indian no trânsito tanta gente (motoqueiros no sinal e motoristas) me perguntou sobre a moto. Pode ser que a balsona intimide, o povo fique sem graça de perguntar, sei lá. Mas só no primeiro dia rodando com a moto foram 4 motociclistas (de entregas ou passeio). A moto é um charme. Mesmo os que não interagiram comigo eu vi uns três apontando e dizendo “olha essa Royal” ou “que motinha legal”.
Consumo e manutenção:
A moto veio de São Paulo totalmente revisada pelo dono anterior. Todos os fluidos trocados, pastilhas ainda meia vida, lubrificação geral, reaperto, etc. :
Está bem "justinha" mesmo depois dos quase 1.000km rodando perto do limite durante a viagem do ex-proprietário para Brasília (contrariando os "relatos de Internet" que dizem que ela se desmancha toda e requer reaperto geral a cada 1.000km). Eu mesmo dei uma conferida nos parafusos e não tem nada frouxo.
Em termos de custos, não sei precisar ainda (não precisei fazer nada), mas tenho o mesmo mecânico que mexe na minha Indian (que também dá manutenção em várias Royal Enfield, dentre elas as três do Flávio Bressan) para cuidar da motocicleta.
Consumo ainda não tive chance de medir. Vou terminar de gastar o tanque que veio nela, aí abasteço e farei a medida. Chuto que terei uma primeira média de consumo urbano dentro de duas semanas. Amigos que andam de Royal Enfield injetada aqui no DF dizem que posso esperar consumo na faixa dos 30 km/l.
O que me incomodou:
Bom, é uma moto bem pelada, fora injeção e ABS não tem mais nada. Não tem conta-giros (nem precisa, pilota de ouvido), não tem marcador de combustível (só luz reserva) nem ao menos um odômetro parcial. Ou seja, tem que registrar a km total a cada abastecimento e não pode esquecer kkkk.
O painel tem posição legível, mas sob o sol é impossível ver as luzes espia (teve horas que eu simplesmente não sabia se a seta tava ligada ou não - tive que tapar o painel com a mão pra ter certeza) e um detalhe de moto toda cromada - sob sol o reflexo vem direto nos olhos (isso era de se esperar)... são as únicas “ressalvas” (pra não dizer reclamações) com a moto mas são parte do conceito “roots” da "tranqueirinha".
Conclusões:
É isso, é uma moto “roots”. Simpática, bonitinha, e tira um baita sorriso da cara de quem pilota.
Mordi a língua, admito. A motinha é divertida demais. Gostei muito. Vai ficar pro uso diário.
E atualizarei com novas informações conforme o tempo de convivência. E assim que tiver uma oportunidade, testo uma totalmente original para fazer uma comparação e ver a real eficácia dos upgrades realizados pelo ex-proprietário.
E atualizarei com novas informações conforme o tempo de convivência. E assim que tiver uma oportunidade, testo uma totalmente original para fazer uma comparação e ver a real eficácia dos upgrades realizados pelo ex-proprietário.
Boa tarde tudo bem?
ResponderExcluirEstou querendo comprar uma moto Indian, porém sei que a venda da marca foi suspensa aqui no Brasil.
Obviamente é moto que estou vendo para comprar é usada, porém com baixa km. Mas estou indeciso pois estou preocupado com a manutenção dessas motos, já que não existem concessionárias. Gostaria de saber a opinião sua já que você tem uma. Poderia me ajudar. Eu moro em Santa Catarina.
olá Lucas, tudo bem?
ExcluirEntão. As motos da marca pararam de ser vendidas, mas ainda tem suporte oficial da Polaris. A lista das oficinas credenciadas (que também trabalham com peças originais) está em:
http://www.indianmotorcyclebrasil.com/
Aí em Santa Catarina eu sei que tem uma oficina credenciada em Blumenau (Seiko Motos, que também é concessionária Yamaha).
Agora, é claro que ter uma moto "sem suporte" (nem tanto né, ainda tem as oficinas autorizadas) assusta um pouco. Tem que ter muita paixão pela moto e um pouquinho de paciência. Mesmo com as supostas "dificuldades" eu viajei por três países com a minha.
Mas vale dar uma lida neste artigo aqui:
https://bira-hd.blogspot.com/2019/07/a-parte-chata-de-ter-uma-moto-diferente.html
Mas a manutenção "normal" é simples. As peças consumíveis são facilmente encontradas no mercado brasileiro... rolamentos e filtro de óleo são padrão de mercado (filtro de ar eu recomendaria usar um K&N pra não ter que trocar nunca mais). Tem aqui uma tabela de referência cruzada:
https://bira-hd.blogspot.com/2019/02/pecas-indian-referencia-cruzada.html
Recomendo ainda acessar o blog da Árduo Motorcycle que tem muitas dicas para manutenção de Scout com os recursos disponíveis aqui no Brasil.
https://arduo.com.br/
Cara... partida elétrica ela tem sim. Mas TAMBÉM tem pedal (tipo de coisa que só se usa pra fazer graça ou se a bateria acabar). A Classsic tem mesmo só o essencial: ABS, injeção e partida elétrica.
ResponderExcluirJá a Himalayan (a trail) é mais completinha, painel com RPM, marcador de combustível, trip A e trip B, etc.
legal o blog...vou seguir!
ResponderExcluir