sexta-feira, 6 de março de 2020

Especulando um pouco sobre a R18 - a nova "cruiser" da BMW


Uma cruiser da BMW não é algo muito comum de se ver. A marca alemã, nos últimos 30 anos, pouco se aventurou nesse segmento, tendo se especializado mais no segmento big trail e nas tourers mais modernas como a R 1200/1250 RT e a K1600 GT/GTL/B.

BMW R1200RT


BMW K1600B


As últimas tentativas da marca bávara no segmento cruiser não foram exatamente um sucesso de mercado. A R1200C, lançada em 1997 e fabricada até 2004 é raríssima de se ver nas ruas, sendo mais conhecida como a "moto do James Bond" no filme "007 - O Amanhã Nunca Morre":




Para uma visão de uma 1200C "inteira", uma imagem de divulgação:





Tecnicamente falando, a motocicleta era sensacional: o motor boxer de 1200cm³ deixava o centro de gravidade da motocicleta bem baixo, o que aliado a todas as traquitanas tecnológicas típicas das motos da marca alemã, deixava a R1200C com uma ciclística impecável. Apesar disso, o visual da máquina não agradava a todos, pois fugia do tradicional para o segmento. Em 7 anos de produção, apenas 40.000 foram feitas. 


Aproveitando o quadro cruiser, também houve uma versão touring da R1200C, a R1200CL, uma moto também tecnicamente impecável, mas com visual de gosto extremamente duvidoso. Sei que é uma questão de gosto EXTREMAMENTE pessoal, mas para mim a R1200CL é uma das motos mais esquisitas dos últimos 20 anos. Uma pena, pois se essa motocicleta tivesse um visual menos "exótico" poderia ter feito grande sucesso no segmento touring:



Depois de 15 anos (mais exatamente ano passado, em 2019), a BMW anunciou que voltará ao segmento cruiser, apresentando o conceito da R18:




Visualmente falando, este protótipo é muitíssimo bem resolvido. É previsto que a versão final de produção não tenha um visual assim tão "agressivo" (o protótipo foi feito no conceito bobber, mais para impressionar), mas ainda condizente com o segmento cruiser conforme mostram as imagens de registro de patente: 



Nota-se que a moto ganhou um visual mais "tradicional", com banco duplo e um guidão com mais pullback, além dos itens obrigatórios como suporte de placa e espelhos retrovisores. 

Na semana passada, o site RideApart apresentou fotos de um flagra feito com a segunda versão da R18, que será chamada provisoriamente de "R18 Bagger".




Como diferenciais para a versão "base", a moto vem de fábrica com uma carenagem (fairing) , muito provavelmente com sistema de som (note pelas imagens que o navegador GPS não é embutido na mesma, estando "pendurado" no guidão), além de um banco inteiriço com um estilo mais "sofá" (pensando em longas viagens com piloto e garupa) , alforges laterais e um bagageiro traseiro (suporte para baú - e sinceramente ESPERO que não seja esse baú de alumínio a ser fornecido com a moto). 


Tratam-se, também, das primeiras imagens de uma versão de produção da R18 em movimento, e uma das coisas que me chamou a atenção (devo dizer, de forma negativa) foi isso:



Note o tanto que as pernas do piloto estão dobradas! Essa posição me lembra a que eu tinha quando pilotava a GS1200 Adventure que havia pego na troca da Heritage, só que com o banco ainda mais baixo, deixando a região do ciático e lombar sob ainda mais tensão (para referência, eu não conseguia andar mais de 40 minutos na GS sem ter fortes dores - lembrando que moto é algo muito pessoal, o que me causa dores pode ser extremamente confortável e indolor para outros). 

Para piorar, o enorme motor boxer (ainda maior e mais largo que o da GS!) não permite a instalação de acessórios (como pedaleiras adicionais) para variar a posição das pernas do piloto, algo essencial em viagens mais longas. Mesmo que fossem adotadas pedaleiras na lateral do motor (algo usado, por exemplo, nas Honda Gold Wing, que apesar de ter um boxer 1800 é um motor lateralmente bem mais compacto, já que em vez de apenas dois cilindros de 900cm³, são seis cilindros de 300cm³) , me passa a impressão que "esticar as pernas" seria ainda pior. 


Devo dizer, também, que o design dos alforges laterais não me agradou muito, parecendo que foram adaptados à moto. Eu acharia uma solução mais "clean" como a usada na K1600B (não necessariamente com o mesmo design, mas pelo menos mais integradas à moto e pintadas na mesma cor):



Aliás, na minha opinião SINCERA, a BMW não deveria tentar "imitar" as Harley-Davidson e Indian. A marca possui uma identidade visual própria. Pessoalmente, preferiria, em uma "tourer-bagger" da BMW, um visual mais moderno, podendo ser inspirado na própria K1600B ou na R1250 RT, ainda que com o motor boxer. Basta lembrar que a RT (tá certo que ela é mais alta) usa o motor boxer:




e que a K1600B, que tem uma pegada mais cruiser, com posição de pilotagem mais baixa, usa o visual "moderno" com a identidade própria da BMW. Lembre que o motor mais compacto da K1600B permite o uso de plataformas avançadas, que são o grande diferencial da B para a GTL:




Assim, eu não veria problemas em misturar os dois modelos para que uma bagger da BMW tivesse o motor boxer (com suas vantagens como manutenção mais fácil que o seis-cilindros da K1600, torque em baixos giros, etc) e o visual moderno típico da marca alemã. Basta lembrar que as últimas tentativas da BMW em "copiar" as cruisers americanas não deu muito certo... 



Pra quem acha que uma cruiser "moderna" fica estranha, é só lembrar da finada Victory Vision. Não é feia, é apenas "diferente":




Tecnicamente falando, fora essa questão da posição de pilotagem (a ser conferida pessoalmente quando a moto chegar ao mercado),  as R18 (seja a "base", seja a "bagger"), serão motos com ciclística impecável como é o padrão da marca alemã. Podemos esperar toda a traquitana tecnológica de sempre, como os amortecedores ajustáveis eletronicamente com "sensores" para melhor se adaptar ao terreno (ESA), monitoramento de pressão dos pneus (RDC) e tudo o mais que caracteriza as motos da marca. Além disso, o motorzão boxer joga o centro de gravidade lá pra baixo, será provavelmente a cruiser que mais curva e freia no mercado... outra boa característica das BMW é a transmissão por eixo cardã, que (desde que com manutenção adequada e sem falhas de projeto como aconteceu em algumas GS) em teoria dura a vida inteira. 

Ninguém fala nada sobre preços, mas eu vou fazer um chute embasado aqui. Como é uma moto de construção mais simples que a K1600B, ela deverá custar menos que essa. Todavia, como o foco é enfrentar as Harley-Davidson, e tendo um pacote tecnológico mais completo que a delas, eu imagino que custarão mais que as H-D. 


Assim sendo, considerando que o preço de tabela de uma K1600B hoje está em torno dos R$ 150.000,00, e que uma Electra Glide custa R$ 102.000,00, eu esperaria  (lembre-se, é um chute!) um preço entre R$ 110.000,00 e R$ 120.000,00 para a versão bagger (lembre-se que ela não tem o baú traseiro, estando mais próxima, na realidade, da Street Glide), e um preço ligeiramente inferior (na faixa dos R$ 90-100 mil) para a versão "base", lembrando que a Road King Special (que já vem com malas laterais) custa R$ 85.000,00 (a Classic saiu de linha). Acho muito difícil que custem menos que isso, será uma moto de produção muito mais limitada que (por exemplo) a R1250GS, e por isso acabará tendo um valor de tabela mais elevado que esta, além do que provavelmente virá importada direto da Alemanha e não montada em Manaus, pagando imposto cheio de importação e sem todos aqueles incentivos fiscais que a produção local oferece. O fato é: se custar tanto (ou mais) que a K1600, não vai vender. 


Será definitivamente um produto de nicho, e a BMW terá muito trabalho para convencer os consumidores mais tradicionais de cruisers a migrar para o seu produto. Todavia, será um excelente produto para os atuais donos de big trails que queiram experimentar o segmento cruiser mas têm a marca alemã em seus corações.

Ah, para quem tem dúvidas se esse novo modelo da BMW vem mesmo para o Brasil, imagens de registro de patentes também postadas no site RideApart mostram imagens do registro no INPI para um modelo 2021, com texto inclusive em PORTUGUÊS. A LPI mencionada nas imagens é a Lei 9279/96, o Código de Propriedade Intelectual, e os artigos 119 e 120 falam justamente sobre a vigência dos registros no INPI, ou seja, é da lei brasileira que estão falando:



Nenhum comentário:

Postar um comentário

V-Strom 650XT - Breve review após 1500km

 Já se vão alguns meses desde que adquiri minha Suzuki V-Strom 650XT  e em que pese eu não ter rodado tanto assim durante esse tempo, já dá ...