quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Preparando a Roadmaster para viajar - revisão

A Roadmaster está com seus 29.500 km hoje (a busquei com 27 mil), tendo sido feita a última revisão (24 mil km, feita aos 24.800) na Indian Belo Horizonte (quando ainda era Indian).

A próxima revisão seria aos 32 mil km, todavia, além dos meus planos de viagem para o mês de Abril (considero prudente não viajar "logo após a revisão", sendo interessante rodar um pouco antes de pegar a estrada para ter certeza que está tudo ok), um pequeno "incidente" me fez antecipar a revisão como um todo.



Então, a revisão dos 32 mil km (feita aos 30 mil) foi composta pelos seguintes itens:

- Troca das pastilhas de freio dianteiras e traseiras (feito por mim em casa) - vide "o incidente"
- Troca do fluido de freio (idem) 
- Troca de óleo + filtro (idem)
- Troca das velas de ignição - será feito em oficina apenas por dificuldade com ferramenta
- Troca do óleo das bengalas - será feito em oficina
- Conferir rolamentos, ajuste de tensão de correia, etc. - será feito em oficina

Não é necessária troca do filtro de ar pois a minha moto possui um filtro lavável da K&N, e ainda não está na hora de fazer sua lavagem e reposição do óleo.

Resolvi, também, preventivamente (já que a moto já tem pouco mais de 2 anos de uso e não quero correr o risco de ficar na mão durante a viagem - não fosse viajar, usaria "até o osso") trocar a bateria da moto. 

O incidente


Então. Como está no próprio manual do proprietário (e no manual de serviços da motocicleta), a inspeção do desgaste das pastilhas de freio e é OBRIGATÓRIA em todas as revisões.

A orientação é: "se não está em condições de chegar até a próxima revisão, troque". 

Ocorre que apenas 4 mil km após a última revisão (com 28800km) o freio traseiro começou a "chiar" quando estava voltando de um passeio. Achei por bem parar a moto até ter certeza da causa do problema, que eu já suspeitava serem as pastilhas de freio, já que normalmente em cruisers o freio traseiro tende a gastar pastilhas mais rápido que o dianteiro. Não quis correr o risco de danificar irremediavelmente o disco de freio traseiro.

Ao desmontar as pastilhas de freio traseiras, a surpresa:


Sim, em que pese elas já estarem no limite de desgaste àquela época, não foram trocadas na última revisão, e acabaram chegando ao metal. E nunca chegariam aos 32 mil km da próxima revisão, como comprovado pelas fotos acima. Por sorte parei de usar a moto antes que o disco fosse danificado.

As dianteiras não estavam muito diferentes disso. Não chegaram ao metal, mas já estavam BEM desgastadas e em uma inspeção na revisão dos 24 mil km também seria fácil de notar que não aguentariam os 8.000km até a próxima revisão:


O fato é: se nem uma simples inspeção de pastilhas de freio (obrigatória em toda revisão) foi feita na revisão dos 24.000km, o que dirá a troca de óleo das bengalas (que deveria ter sido feita OBRIGATORIAMENTE nessa revisão dos 24.000km), que requer praticamente a desmontagem de toda a seção frontal da moto? Duvido que tenham feito, e é por isso que vou pagar um mecânico particular só para ter a certeza de que foi REALMENTE feita.

Troca das pastilhas de freio + fluido de freio


A troca das pastilhas e fluido de freio da Roadmaster é simples, e não tem segredo, não fosse a troca do fluido de freio (que é um pouquinho mais demorada) eu teria feito a troca de todas as pastilhas (disco duplo na frente e simples atrás) em menos de uma hora. O procedimento é praticamente o mesmo de qualquer troca de pastilhas e fluido de freio, salvo pequenos "detalhes" (é necessário afastar (não retirar, só afastar) a ponteira de escapamento esquerda para conseguir fazer a substituição das pastilhas traseiras, e remover o acabamento (dos dois lados) do pára-lama dianteiro que cobre as pinças de freio. Não cheguei a documentar o processo, mas segui os seguintes tutoriais do YouTube:

Troca das pastilhas traseiras:

Troca das pastilhas dianteiras:


As pastilhas para Indian são facilmente encontradas em lojas online de motopeças e no site MercadoLivre. Optei pela linha HH (sinterizadas) da EBC Brakes. Para a Roadmaster são dois pares da FA347HH para a dianteira (disco duplo), e um par da FA196HH para a traseira. 

Para a troca do fluido de freios, mantive a recomendação da Indian de uso de fluido DOT4 (não quis fazer o costumeiro "upgrade" para 5.1, pois o considero desnecessário), e usei o nacional da Freios Varga, que me custou R$ 20,00 o frasco em loja de autopeças. Para a moto usa-se muito pouco, e ainda sobrou fluido suficiente para fazer a troca do fluido dos freios do meu carro, um smart fortwo. 

Eu acho o processo de sangria "manual" de freios muito chato (além de impossível de fazer sozinho), então adquiri para minha "oficina" uma bombinha de vácuo específica para esse fim (um clone chinês da famosa Mityvac, R$ 273,00 no MercadoLivre), que torna o processo de troca de fluido de freio de sua moto/carro, literalmente, "mamão com açúcar", sem precisar de um segundo par de mãos.

Sim, essa bombinha "genérica" não tem a mesma qualidade de fabricação de uma Mityvac americana original (que no Brasil custa os olhos da cara, mas custa uns 60 dólares nos EUA), mas para uso eventual (não-profissional), está ótima.

O vídeo a seguir mostra o procedimento em um automóvel, mas, na real, em motocicletas é muito parecido, bastando lembrar que em vez de um reservatório só para todo o sistema de freios como nos carros, é um reservatório para o freio dianteiro e outro para o freio traseiro, ou seja, tanto faz fazer traseiro ou dianteiro primeiro.

Sangria de freio com bomba a vácuo manual:


Trocadas todas as pastilhas e o fluido de freios, a moto está novamente freando bem, como deveria, já que para parar um mamute de 420kg mais piloto/garupa/bagagem os freios tem que realmente estar em perfeita ordem. 

Troca de óleo + filtro de óleo


Diferentemente das Harley-Davidson, em que o óleo do câmbio/primária é totalmente isolado do óleo do motor, as Indian seguem o padrão "mundial" de "um óleo para tudo". Em consequência, seu motor 111 polegadas cúbicas exige a enorme quantidade de (quase) 5,5 litros de óleo, já que este óleo cobre tanto motor quanto transmissão.

Vale lembrar que o procedimento de troca de óleo (além de outros procedimentos de manutenção de rotina) que constam no manual de serviços (em inglês) das motos Indian também constam, de forma detalhada (até com os torques dos parafusos), no manual do proprietário. Então, o manual de serviços (ao qual tenho acesso) não foi necessário, foi mais fácil estudar as informações já traduzidas ao Português brasileiro no manual do proprietário. Há ainda, para referência, o tutorial em vídeo (em inglês) da própria Indian, no Youtube (aliás, interessante essa disponibilização na Internet de vídeos de "faça-você-mesmo" pelo próprio fabricante da moto, coisa rara de se ver).



Para troca de óleo das Chief/Chieftain/Roadmaster, há uma curiosidade interessante: ela possui não um, mas DOIS bujões de escoamento. Um escoa o cárter e outro escoa o óleo que está na tubulação interna do motor (incluindo o radiador de óleo). Tira-se primeiro o bujão do cárter (o que fica mais próximo à lateral da moto, inclinada no pezinho lateral), deixa-se escoar todo esse óleo, e aí tira-se o outro bujão. Para a retirada destes bujões, utiliza-se uma chave Allen de 6mm. Deve-se tomar cuidado para não perder as arruelas de vedação em cobre, que normalmente são reaproveitadas já que raramente estragam (eu já tinha comprado novas, então coloquei novas de qualquer forma). Aliás, a opção "paralela" para as arruelas de cobre está no catálogo da Wurth, com o part number "046012 181", ou seja "Arruela de vedação em cobre, 12,0 x 18,0 x 1,5mm" (traduzindo: arruela de vedação de cobre, 12mm de diâmetro interno, 18mm de diâmetro externo, 1,5mm de espessura, encontrável em qualquer boa loja de parafusos - pode comprar na Wurth também mas eles só vendem pacote com 25 - tenho arruela de cobre para até o fim da vida da moto agora kkkk). 

Retirado todo o óleo do motor, aí retira-se o filtro, que fica na parte frontal da motocicleta, protegido por uma carenagem plástica (que protege o filtro de óleo e o retificador de voltagem) presa por 4 parafusos Allen de 4mm. Para tirar o filtro usa-se uma chave de filtro de óleo automotivo comum (daquelas de cinta) ou uma chave própria da Indian. Como eu não tinha nenhuma das duas, usei o velho método de "espetar uma chave de fenda" e girar o filtro, (torcendo para que não estivesse apertado até o talo como há 2 anos quando fui fazer em casa a troca de óleo da Deluxe e fiquei com um "cotoco" de filtro preso no motor da moto, necessitando bolar uma ferramenta só para tirá-lo - se isso acontecesse, eu pelo menos ainda tinha essa ferramenta hahahaha). Como estava certinho, saiu numa boa. Não recomendo usar esse método de retirada de filtro "na marra" em casa (use uma chave apropriada! rsrsr), mas é aquela velha história do "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço" kkkk. 

Para o óleo de motor, resolvi também seguir a recomendação do manual e procurei óleos com a mesma especificação do óleo recomendado pela Indian, que é o Motul 5100 15W50 (API SM, JASO MA 2). Acabou que é muito difícil achar a bom preço um óleo que não seja API SL (inferior ao SM, veja meu artigo sobre óleos), então a alternativa mais em conta acabou sendo o próprio Motul 5100. Vale lembrar que eu adquiri o óleo em uma loja de troca de óleo automotivo que é distribuidor local da Motul, então economizei em torno de 22 reais no litro quando comparado às lojas especializadas em moto aqui da cidade (se comparado ao preço de Internet + frete, ainda consegui uma economia de 13 reais ao litro). Já que precisei comprar 6 litros de óleo para colocar os 5,5 na moto, economizei 132 reais na troca de óleo só com essa pesquisa de preços. E praticamente não gastei gasolina nem tempo para buscar o óleo, já que essa loja fica a menos de 1km da minha residência.

Outra curiosidade das motos Indian é que elas usam muitas peças "padrão de mercado", dentre elas o filtro de óleo. Para a linha Chief/Chieftain/Roadmaster, por exemplo, embora não conste especificamente da tabela de compatibilidade (que além do original se resume a algumas marcas americanas e ao HF175 da Hiflo, o único encontrado no mercado brasileiro) , ao verificar-se listas de "referência cruzada" descobri que um dos filtros compatíveis com a linha Chief é o "coringa" Fram PH6017A, usado na maioria absoluta das motos médias e grandes japonesas/europeias do mercado. Para referência, é o mesmo da Honda Shadow e das CB500 de última geração. Esta compatibilidade abre um enorme leque de possibilidades, dentre elas a de usar um filtro de óleo KN-303 da K&N (o filtro de óleo da K&N, diferentemente do filtro de ar da mesma marca, é descartável, como qualquer filtro comum) que não requer chave específica para a sua troca (usa uma chave comum de 14mm, esse é o grande "tcham" do filtro de óleo K&N), facilitando muito a vida de quem faz a manutenção em casa (ele custa o mesmo que o Hiflo - vale lembrar que o Fram é BEM mais barato - o Hiflo e o K&N custam em torno de 80 reais, o Fram custa 30. 

Em tempo: não sei se as Indian Scout também aceitam o PH6017A/KN-303, já que o filtro de óleo original delas é um pouco menor na altura que o da Chief e o uso de um filtro diferente pode dar problemas de espaço (risco de bater no solo, sei lá). 

Todavia, como eu já havia adquirido dois (um de reserva) Hiflo HF175, usei o Hiflo, e também usare o mesmo na próxima troca, aos 40 mil km (sim, eu tenho o hábito de SEMPRE trocar óleo e filtro juntos, e não a cada duas trocas de óleo como o recomendado no manual). Depois que acabar meu "estoque" vou para as alternativas do mercado. 

Antes de montar o filtro coloca-se óleo nele e passa-se um pouco de óleo no anel de vedação. Montado o novo filtro em seu local (apertado só com a mão como manda o figurino), deixei para montar a carenagem de proteção do filtro/retificador só ao final do serviço, para ter certeza que o filtro estava apertado suficientemente e não ocorreria vazamento... aí é hora de colocar o óleo no motor, e no motor Thunder Stroke esse procedimento é feito em DUAS etapas (não coloque os 5,5 litros de uma vez, senão você VAI FAZER LAMBANÇA, não entra tudo de uma vez e VAI TRANSBORDAR se você fizer isso):

- Retire a vareta de medição do nível do óleo (requer uma chave específica fornecida com a motocicleta, mas se perder essa ferramenta dá pra tirar com um alicatinho de pressão pequeno). É nesse local que você colocará o funil de óleo;
- Coloque uma quantidade de óleo de aproximadamente 4 litros (a moto tem que estar NA VERTICAL, senão VAI DERRAMAR após os 3,5 litros);
- Coloque a vareta de volta;
- Coloque a moto na vertical e ligue o motor, SEM ACELERAR, deixe ligada por aproximadamente 1 minuto. Apagou a luz do óleo, desligue o motor e apóie a moto no solo (se você está usando o pezinho lateral) de novo. Este procedimento vai "encher" o radiador de óleo e fazer circular o óleo no motor, abrindo espaço para colocar o restante do óleo necessário;
- Coloque mais 1 litro  (lembra que você comprou 6? use 5);
- Do último frasco, você colocará entre 200 e 500ml, dependendo de quanto ficou de óleo no motor (sim, sempre vai ficar um restinho no cárter). Essa é a parte mais chata, pois você tem que colocar de pouquinho em pouquinho (recomendo colocar de 100 em 100ml para evitar colocar excesso de óleo) e conferir o nível do óleo, o que exige que a moto esteja na vertical. Como eu fiz? Colocava a moto na vertical, dava a partida, deixava o motor rodar um minuto em marcha lenta e desligava. Ainda montado na moto, tirava a varetinha e conferia o nível do óleo. Se ainda não estava na metade entre mínimo e máximo, completava mais um pouco e repetia o processo. Na minha moto entraram 5,4 litros, ou seja, quase 5,5 se considerar o que foi colocado no filtro. 

Completado o novo óleo, tudo apertado certinho e sem vazamentos, é só remontar a carenagem de proteção do filtro/retificador. Para finalizar, "resetar" o indicador de troca de óleo no computador de bordo da motocicleta, conforme o vídeo a seguir (é só selecionar a função de vida útil do óleo e segurar o "trip" até resetar, nada muito diferente do odômetro parcial/medidor de consumo de combustível):




Troca das velas de ignição


Outro item sem segredo. Adquiri novas velas de Iridium (cujo único benefício em relação às comuns é a maior durabilidade, algo importante em um país com tanta variação na qualidade de gasolina - que tende a reduzir a vida útil as velas - como o nosso), no caso a DCPR8EIX da NGK (a mesma usada em vários modelos HD e de outras marcas). 

Fiz o ajuste do espaçamento dos eletrodos conforme manda o manual do proprietário, usando ferramenta própria para isso. Porém, não efetuei a troca das velas por um motivo bobo: não tenho uma chave de vela que caiba no espaço entre o tanque e o motor, teria de levantar o tanque, porém como eu já ia levar a moto para fazer a troca de rolamentos e óleo de bengalas, deixei pro meu mecânico de confiança fazer o serviço.

De qualquer forma, tendo a ferramenta certa (no caso o que eu precisaria seria um prolongador de chave de 3/8" em L, de um tamanho específico), não há segredo e dá pra fazer sem desmontar nada.É um serviço praticamente sem segredo para quem está acostumado a dar manutenção por conta própria em seus veículos. 

Troca da bateria


A troca da bateria é simples para quem já está acostumado. Apenas para "refrescar" o procedimento na minha mente, assisti a este tutorial oficial da Indian no Youtube:


Vale lembrar que na linha Chief da Indian há que se tomar um cuidado especial para não "curto-circuitar" o terminal positivo com o gabinete da central eletrônica da moto.

Para a bateria nova, optei por uma da marca Motobatt (MBTX20U, R$ 540,00 com o frete) para substituir a Yuasa original.

Troca de óleo das bengalas, verificação de rolamentos e ajustes gerais


Para esta parte do serviço, infelizmente não tenho meios nem espaço pra fazer em casa, então precisei recorrer aos serviços de um mecânico de minha confiança.

Supostamente, a troca do óleo das bengalas teria sido feita aos 24 mil km na Indian BH, mas considerando o que aconteceu com as pastilhas de freio, não tenho qualquer confiança em que o serviço tenha sido, de fato, feito. Então, na dúvida, já que vou fazer uma viagem grande (estimo o percurso total em 8.000km) vamos fazer "de novo" (ou pela primeira vez).  "O seguro morreu de velho", não é?

Os rolamentos da roda dianteira começaram a roncar, muito provavelmente em decorrência de um passeio na lama que fiz outro dia, precisei muita lavada com água e pressão para deixar a moto limpa de novo e isso deve ter danificado os rolamentos.

Quando levar a moto ao mecânico para esses ajustes finais (que incluirão a troca de velas) teremos outro post. 

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