quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Sobre a linha 2018 da Harley-Davidson

Fotos: Divulgação

Em Agosto de 2017, uma notícia chegou como uma bomba em toda a comunidade mundial de fãs e proprietários da Harley-Davidson: a marca apresentava o que podemos considerar como o seu segredo mais bem guardado nos últimos anos: a nova linha 2018.

Era certo dentre os que acompanham a marca que era apenas uma questão de tempo para que os motores Twin Cam (em linha desde 1998, com várias e sucessivas atualizações desde então) deixassem a linha de produção. As normas cada vez mais restritivas nos quesitos de emissão de poluentes e economia média de combustível (especialmente em mercados como os da Califórnia e da Europa) colocava os velhos TC em maus lençóis. Os Twin Cam já haviam sido substituídos pelo novo motor Milwaukee-Eight (4 válvulas por cilindro) em toda a linha Touring da HD desde o ano anterior (para a linha 2017), mas as Dynas e Softails ainda continuavam com os Twin Cam, em suas versões 96, 96B, 103 e 103B "High Output". 

O que todos esperavam: uma geração "intermediária" adaptando o motor Milwaukee-Eight (que daqui pra frente será referido como "M8") aos quadros existentes. Porém, o que foi apresentado surpreendeu a todos:



  • um novo chassis Softail, com toda uma nova gama de modelos;
  • o fim da linha Dyna;
  • a absorção de modelos que sempre foram caracterizados como "Dyna" na linha Softail;
  • "Reedições" de modelos clássicos, como uma Heritage Classic toda "preta"(quase sem cromados), uma Deluxe com piscas retangulares em LED, uma Fat Bob totalmente diferente de qualquer Harley-Davidson já fabricada nos seus 115 anos de existência e uma Fat Boy com rodas enormes que parecem ter saído de um Cadillac Escalade de um rapper americano;

Não é à toa que boa parte dos fãs se assustaram. A nova Softail Fat Bob é uma verdadeira mudança de paradigma. 

Os novos modelos são:
  • FXSB (Softail Street Bob), exclusivamente com o motor M8 de 107 polegadas cúbicas (M8-107);
  • FXFB (Softail Fat Bob), com o motor M8-107, e FXFBS, com o motor M8 de 114 polegadas cúbicas (M8-114);
  • FXLR (Softail Low Rider), exclusivamente com o motor M8-107;
  • FXBR (Softail Breakout), com o motor M8-107 e FXBRS, com o M8-114;
  • FLSL (Softail Slim), exclusivamente com o motor M8-107;
  • FLDE (Softail Deluxe), exclusivamente com o motor M8-107;
  • FLFB (Softail Fat Boy), com o motor M8-107, e FLFBS, com o M8-114;
  • FLHC (Softail Heritage Classic), com o motor M8-107, e FLHCS, com o M8-114.

Sim, não foi apenas uma substituição de motores, mas também uma consolidação de duas linhas de modelo (Dyna e Softail) em uma única ("new Softail"), totalmente nova. 
A nova Fat Boy e suas novas rodas, totalmente "Dub Style"

Não vou entrar nos detalhes técnicos, que eu tenho certeza que todos já devem estar cansados de ler por aí, mas o fato é que essa nova linha teve uma rejeição imediata da quase totalidade do público cativo da marca, incluído aqui este que vos escreve.

Só que deve-se dizer que, a rigor, essa rejeição foi, para boa parte do público (incluído aqui este que vos escreve), apenas temporária, resultado do "susto" inicial pela mudança radical no line-up da marca feita "de sopetão". 

A Softail Deluxe 2018 e seus polêmicos novos piscas em LED

Podemos dizer que o novo line-up é um verdadeiro tapa na cara dos tradicionalistas, aqueles mesmos que já não compravam Harley-Davidsons há anos por acharem que "as motos estão com eletrônica demais". O fato é que consumidor de moto usada ou antiga não rende lucro para a fábrica, e a mesma precisava angariar novos consumidores, e resgatar alguns que já são clientes, mas que são mais abertos a melhorias de projeto e "upgrades", mas não tinham motivo algum para trocar suas motos, já que o line-up então existente não agregava nada de novo que justificasse o investimento na troca de suas motos atuais (a menos que fosse pra sair de seu modelo atual para uma maior, o que não é do interesse de todos os consumidores - eu mesmo não me imagino pilotando uma Touring no dia-a-dia). 

Em nenhum momento da "gestação" dos novos modelos o foco dos designers da marca foi de conquistar aquele cara que anda numa Dyna Evolution carburada dos anos 90. 

O objetivo da marca era de conquistar novos clientes (aqueles que nunca tiveram uma Harley-Davidson), resgatar alguns clientes de motos mais antigas mas que gostam de tecnologia quando ela agrega conforto e segurança ao rodar (por exemplo, convencer os donos de Softails a partir de 2011, ano em que passaram a vir com freios ABS de fábrica, a trocar sua moto por uma mais nova), e ainda agradar alguns órfãos de modelos descontinuados (especialmente a linha V-Rod). 

Houve também o receio de que as novas Harley-Davidsons passassem a ter uma condução excessivamente anestesiada (como nas Indian Chief ou nas cruiser japonesas), ou que passassem a adotar plásticos em profusão na sua construção. 

O fato é que, passado o "choque" inicial (eu mesmo dei chilique com o fato da nova Heritage Classic praticamente não ter mais cromados), começaram a aparecer os reviews (muuuuuuuuuitos vídeos no Youtube) e os elogios às melhorias as motos, especialmente no quesito comportamento dinâmico. E os clientes mais abertos a mudança (incluído aqui este que vos escreve) começaram a se "acostumar" mais com o visual da nova linha, e até mesmo a gostar dos novos modelos. 
A nova Heritage Classic, praticamente sem cromados. Infelizmente essa combinação de cores não é oferecida no mercado brasileiro. 

No que diz respeito aos plásticos, as novas Harley-Davidson continua sendo legítimas Harley-Davidsons: metal em profusão, com o uso de plásticos se limitando ao policarbonato das lentes de piscas e lanternas e dos pára-brisas. 

No que diz respeito à condução, os reviewers americanos foram apenas elogios às novas motos, o que parecia até muito bom para ser verdade (mais sobre isso em outro post). 

Em novembro, uma nova surpresa: a Harley-Davidson apresentou mais um modelo no line-up Softail: a Sport Glide (FXSG), uma "reedição moderna" da antiga Softail Convertible. Trata-se de um modelo inteiramente novo, que mistura elementos de vários modelos da HD e alguns inéditos na marca. Trata-se de uma FX (Softail com pedaleiras em vez de plataformas) , mas com o tanque de 5 galões usado (até então) apenas nas Softail FL. Como elementos adicionais, malas laterais rígidas destacáveis, e um inédito parabrisa tipo "mini-batwing" também destacável, uma moto que permite ao proprietário escolher quatro configurações diferentes de uso (completa, com o batwing e as malas; só com o batwing, sem as malas; só com as malas, sem o batwing; totalmente "pelada", sem o batwing e sem as malas). Podemos dizer que é uma edição mais "moderna" da finada Dyna Switchback, em que pese o uso de pedaleiras em vez de plataformas. 

A Softail FXSG Sport Glide, com todos os acessórios

A nós restava esperar se nós veríamos as novas Harleys em solo brasileiro logo, ou se teríamos de esperar até o lançamento da linha 2019 local. Essa era, na verdade, o que todos esperavam, já que só em 2016 nossas Softails passaram a receber o motor TC103 e nossas Dynas ainda usavam o TC96, motor que já estava fora do line-up americano há anos. A "produção local" também nos fazia crer que teríamos um ano de desova de estoques de motores Twin Cam e dos antigos chassis. 

Porém, alguns blogueiros foram categóricos ao afirmar que não sofreríamos do "atraso" costumeiro no mercado nacional, e que os novos modelos já seriam apresentados no Salão Duas Rodas, em novembro, o que DE FATO aconteceu.

Grande parte dos que visitaram o salão e que ainda rejeitavam as novas motos passaram a aceitá-las depois de vê-las pessoalmente. Ainda persistiu dentre alguns fãs da marca uma certa aversão ao visual exagerado da nova Fat Boy, e há muitos que também continuam torcendo o nariz para as novas Softails. Nessa fase (apesar de eu não ter visitado o salão) eu já estava mais ou menos convencido do novo visual, restava me convencer da dinâmica.

Foram deixados de lado no mercado brasileiro alguns modelos:
  • a Low Rider;
  • a Sport Glide;
  • a Breakout M8-107 (oferecida no Brasil só com o 114);
  • a Heritage Classic M8-114 (oferecida no Brasil só com o 107).
Como bônus à nova linha Softail, a linha Touring também recebeu novos modelos no mercado brasileiro, como as três versões da Road Glide (que nunca foram vendidas aqui), Special, Ultra e CVO,  e a Road King Special.

Não tardou muito para que os novos modelos fossem apresentados aos consumidores nas concessionárias, eu mesmo estive presente na apresentação realizada na Brasília Harley-Davidson, quando tive a chance de conhecer de perto os novos modelos, e devo dizer: vê-los pessoalmente me convenceu totalmente sobre o novo visual, até mesmo dos modelos mais "polêmicos" como a Fat Bob e a Fat Boy. A apresentação das motos na concessionária candanga pode ser vista no vídeo a seguir (cheguei a fazer um segundo vídeo mostrando modelo a modelo, infelizmente o arquivo foi perdido por uma falha no cartão de memória).


Pode-se dizer que a recepção aos novos modelos pelo público consumidor aqui na Capital Federal foi excelente: já no dia da apresentação (até o horário em que fui embora, por volta de meio-dia) foram vendidas três motocicletas, sendo duas Fat Bobs (uma 107 e uma 114) e uma Road Glide Ultra. Deve-se considerar que essas três motos foram vendidas em apenas uma hora (já que a apresentação foi realizada pontualmente às 11 da manhã) Não foram apresentadas no dia nem a Deluxe nem a Street Bob. 

Relatos do Wolfmann no Fórum Harley também comentam que no Rio de Janeiro a recepção foi ótima, e que a polêmica nova Fat Boy está vendendo bem, especialmente entre o público menos estradeiro do modelo, que quer "uma nova Terminator a qualquer custo".

Voltei em um dia útil para conferir as motos com mais calma (estava impossível fazê-lo no dia da apresentação, a concessionária estava tão lotada quanto um show internacional de rock) e a boa impressão (que desfez a má impressão inicial quando da apresentação mundial) se confirmou. Mesmo a Heritage Classic (quase) sem cromados que tanto me fez torcer o nariz passou a ser agradável aos meus olhos (mas eu ainda acho que deveriam tê-la chamado Heritage Special, como toda a linha Dark Custom), em que pese eu ainda achar aquele para-brisas "meio preto" um tanto quanto estranho. 

Mas eu ainda não estava convencido. Precisava testar as motos e avaliar o comportamento dinâmico, o que fiz no dia 28 de dezembro. Mas isso é assunto para os próximos posts (ou você pode conferir meu relato, na íntegra, em uma série de quatro posts no blog do Wolfmann). 

Até a próxima!

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